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EU, ELES E ELAS – CARTA NÚMERO 1

Sim, eu te confundo, mas saiba que você, meu bem, me confunde também. Ou você acha que, pra quem está a vida toda aprendendo a ser si próprio, é fácil entender como é ser o outro, assim, de uma hora pra outra?

Se pra você é preto no branco, pra mim é vermelho, sabe? Cor do sangue, da raiva, do coração. Porque se pra você, sexo é sexo e amor é amor, pra mim, sexo sempre tem um pouco de amor e amor sem sexo é que é sacanagem.

E falar sobre isso não é coisa de quem quer namoro ou compromisso sério. Quem diz tal coisa, pra nós, mulheres, não está sendo homem e sim bichinha mesmo. Mas não bichinha homossexual, que fique claro. As bibas são mais corajosas e menos burras. Bichinha no sentido de fresco, bobo, coitado, mané mesmo.

Não, querido, isso não é uma reclamação de uma mal-amada. Sou tão bem-amada por mim mesma que escolho ficar sozinha ao invés de entrar nesse jogo de fingir o que não sou pra prender homem ou ficar com quem tem medo de me encarar, saca?

Sim, amor, comprometimento e envolvimento sério vêm aos poucos, é preciso conhecer bem, conviver bem. Aí responde pra mulherada o que elas gostariam de saber. Como é que você pode dizer pra ela, quer dizer, pra mim e para todas as outras elas, que você não quer me namorar se você nem me conhece direito ainda? Antes de me jogar no lixo, quer dizer, descartar toda a parte que não é sexo, que tal ir me degustando aos poucos e só depois dar o veredito?

Nesse mundo invertido de hoje, sexo não é consequência, é o primeiro passo. Então por que jantar só a entrada? Isso sacia a tua fome?

“Ah, eu não gosto de namorar”, você diz. Mas você já namorou antes? Ou esse discurso é porque “aquelazinha” te traumatizou? Interessante. Você ouviu uma música e não gostou e por conta disso nunca mais vai querer ouvir nenhuma outra música na vida? Pra não querer ouvir, não teria que primeiro ouvir pra saber? Aí fulano responde: “não gosto de nenhum funk.” ( “ . )Você já ouviu todos os funks do mundo para saber? E, vamos combinar: olhar para uma mulher e, por poucas atitudes, achar que ela é igual àquelas parecidas com ela é ser raso demais, não é mesmo?

Sempre fui da teoria de que para falar mal de um filme eu teria que pelo menos vê-lo até o fim. Para poder saber exatamente o que estou odiando. E, assim, tecer minha crítica com detalhes. Com propriedade.

Por que você não me vê por inteiro antes de me julgar pelo todo? Sim, claro. Todo mundo aqui sabe que estamos falando de um homem e uma mulher ainda não muito íntimos, mas que se sentem atraídos, porque dois corpos sem atração não conseguem ficar juntos. É tipo ímã: atrai, gruda, não atrai, separa.

E quando escrevi aqui a palavra “íntimos” é que me dei conta. Como ficar íntimo no quarto se não rolou intimidade nem na sala de jantar? Às vezes, me sinto numa enorme sala de espera cheia de gente desistindo de entrar no consultório médico antes mesmo de conhecer o médico.

Então, agora, na porta da sala de estar (porque eu agora estou, não espero nada a não ser estar onde estou no momento), daqui de dentro, com a mão na maçaneta, te confesso: quando te disse lá no começo dessa carta (sim, preferi papel e correio no lugar de WhatsApp, Face ou e-mail) que eu sei que te confundo, meu bem, aí vai uma dica sobre minha pessoa. Eu também me confundo. Não sou preto no branco não. Também tendo a desistir logo. Tenho medo e preguiça, sabe? Para ir pro quarto, mesmo que eu até tenha invadido ele de corpo presente, eu geralmente fico com o coração e a alma lá fora, tentando me puxar dali, doida para correr pra bem longe. Mas como eu posso dizer que não gosto da casa toda, se, da porta de entrada, fui direto para seu quarto? Sei lá, cara, mas desconfio que esse papo de que homem é tudo igual e é o oposto das mulheres, que são sempre as mesmas e ambos não se entendem nunca, se não é cegueira, é, no mínimo, uma vesguice. Um olho pra lá e outro pra cá. Foco, cara: no fundo, somos todos iguais.

Mas, ó, isso não fui eu que disse pra você não hein, cara. Eu li de uma escritora aí. Puts! Será que ela também foi pro seu quarto?

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Antonio Carlos Gaio
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