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FILÓSOFO DE BOTEQUIM

O irmão feio que inveja o irmão caçula, e bonito. O primogênito tem mais buraco no rosto que a lua, rosna quando ironizam seu cabelo pixaim, anda vergado com medo de esbarrar no teto e é magro de ruim. Desdenha do imberbe risonho que, com sua fachada de baby face, afiança que não é bonito.
Debocha quando diz que é feio, bebe, fica com as mulheres e o irmão é que leva a fama. Acusa o caçula de abstêmio para preservar a imagem, esse é o seu marketing. Por ser bebum e dar plantão em botecos, sua marca está associada a porrista. Quem não é chegado quer agradar a gregos e troianos, fala, fala e não explica nada, pois não molha o bico.
Por ser contra a exploração da imagem em busca de marca para tornar uma celebridade em produto rentável, faz pouco do irmão, vendido ao sistema, dependente do dindim que pinga no cofrinho, ao sair só com patricinha. Com um sorriso de orelha a orelha, de chope na mão e olhar trêfego em uma rosemary qualquer, discursa como numa democracia de assembléias.
Faz proselitismo, seu nome é trabalho, o dinheiro não esquenta na carteira, sua vida é pagar cerveja e sentar no bar para bater papo. A defender a elevação do nível de educação pela importância na política e no social. Mas abusa do óbvio e dos lugares-comuns. Crê que a qualquer momento será convocado para um cargo público de relevo, por sua capacidade de mobilizar a sociedade, junto ao povo nos botequins e de tanto zanzar por templos da cidadania, ONG’s e lonas culturais.
Não se toca com seu estado permanente de incoerência em que desconecta fatos, idéias e ações ao declarar ser adepto da profissionalização e da tecnologia, apenas porque é médico. De meia-tigela, ex-fumante em atividade, por não tragar. Contudo, faz questão de se fazer respeitar e ser levado a sério, ao se inserir na geração Woodstock e escalar Che Guevara e John Lennon na sua seleção.
Filosofa, essa coisa de ganhar ou perder é irrelevante. Aliás, perder é sempre melhor, crescemos à base de traumas. O médico prescreve que a derrota humaniza, traz uma sensação de ruptura, reforça os laços afetivos e propicia tomar todas naquela noite.
Caçoa da timidez do irmão, ao se vangloriar que se apaixonou 50 mil vezes e arrumou namorada até na Itália, berço de mulheres casadoiras que não dão trela para qualquer bicho solto. Adora casar, deixar o seu gol de placa e descasar, jurando que a atual é única e definitiva. Se valoriza através de mulheres que dão asa a cobra.
Como dono da verdade, sentencia que o caçula não vive, não se dá ao direito de altos e baixos, além de tecer considerações sobre beleza masculina sem receio de ser alinhado aos gays. Sendo ele feio, como é que vai achar um homem bonito? Se ele vem em primeiro lugar. Não quer dar mole, entregando carniça a urubus.
Sua noção de espiritualidade equivale a um prédio nas costas, ao ter se libertado de se sentir acuado sem causa aparente. Era ateu, despertou para uma realidade sensível e transferiu o peso para nós ao abrir a boca nos bares e cantar seu repertório de besteiras.
Quem ele pensa que é?

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Antonio Carlos Gaio
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