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MADRINHA

Na origem das fábulas, a fada é madrinha. Para dar sorte à afilhada, a filha que a madrinha sonhou ter. Fará tudo para que o destino dela seja o de uma princesa.
No caso dos pais faltarem, é a madrinha que provê e protege. A madrinha é co-responsável na educação e orientação, compromisso sagrado na pia batismal.
As tradições se deterioram se não preservadas da ação do tempo, implacável em inadequar costumes se o ser humano tem uma vocação irresistível para matar a natureza das coisas.
Hoje, madrinhas são escolhidas por pais, com olho de lince, por saberem que serão um fracasso. Afilhadas trocam de madrinha procurando o oposto da mãe, com vergonha da herança que ela irá legar – preferível outra família.
Assim como a sociedade de consumo empurrou as afilhadas a assumirem a ação parasita das mães e exigirem da madrinha uma bolsa Victor Hugo, a cobertura das despesas de formatura ou um carro zero, há madrinhas que, ao envelhecerem, buscam no afilhado o marido que nunca tiveram.
Essa rebeldia nas convenções encontra respaldo na nova interpretação que se dá à história do Chapeuzinho Vermelho. O Lobo Mau não é mais a avozinha com uma boca tão grande para comer o Chapeuzinho. Com habilidade e sem rufar os tambores, persegue as senhoritas no rumo de suas casas, de forma reservada e gentil, e lembra-as do frio que irão sentir quando se meterem na cama. O frio do cio eterno a que estão sujeitas. O frio que pode se transformar em prazer e aquecê-las neste inverno, com a condição de que tudo mais vá pro inferno!
Não existe infâmia que o lobo não invente para conquistar sua presa. Não resta outra opção à afilhada senão converter-se em dona de seu próprio destino e prosperar em ações contra a moral da história, enquanto cabe à madrinha resignar-se na condição de vítima. Vítima de histórias da carochinha.

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Antonio Carlos Gaio
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