Nunca assisti ao Brazil’s Next Top Model, mas como sou telespectadora da Sony, freqüentemente sou bombardeada pelas chamadas para esse programa durante os intervalos comerciais. Fui ao banheiro durante a exibição de uma dessas propagandas e de lá ouvi Fernanda Motta, a apresentadora, falando numa voz de perua, que me soou extremamente fútil: “Para ser modelo, não basta ser boa, tem que ser a melhor.” E não é que esse caso me lembrou o depoimento de uma conhecida atriz global?
Trabalhei durante 5 anos e meio na TV Globo e, apesar de preferir não citar nomes, preciso relembrar um evento específico. Uma talentosa atriz da casa, jovem, linda e bem-sucedida, é uma das mulheres mais antipáticas e pedantes que eu já vi na vida. Diz-se, à boca pequena, que ela até já conseguiu ultrapassar uma famosa veterana no quesito estrelice. Pois bem. Assistindo à entrevista da dita-cuja num programa de entretenimento, me saltou aos ouvidos o comentário que ela fez sobre sua infância com o pai. “Sempre que eu ia participar de competições, meu pai me dizia: “Filha, não importa apenas competir, você tem que ser a melhor.” Foi então que compreendi. Está explicado o porquê da bela subir no salto e sustentar a postura de quem se acha melhor do que os “restos mortais”.
Mesmo sabendo que o mundo artístico é um celeiro de egos inflados, aproveito a ocasião para afirmar: infelizmente, esta mentalidade não reina apenas no mundo da moda e das artes. O instinto de competição do ser humano é muito estranho. Em todos os ambientes de trabalho por onde passei, e acredito que isso não aconteça apenas comigo, pude notar uma cambada de gente invejosa, competitiva, fazendo questão de se sobressair à custa da diminuição ou ridicularização do outro.
O que me faz lembrar do comentário de meu pai sobre meu último post, Decrescimento é a palavra. Preocupado como só os pais e as mães sabem ser, ele disse que eu queria mudar o sistema, ao sugerir que todos nós trabalhássemos menos. Afirmou ainda que ele nunca trabalhou por obrigação e sim por prazer, por isso as muitas horas de labuta não lhe causavam sofrimento.
Ok, pai. Concordo contigo. Eu sou completamente workaholic e, como trabalho com o que gosto, tenho que me policiar de todas as maneiras para não esquecer que tenho marido, família, amigos e um mundo fora do escritório. Até comer e dormir direito fica difícil diante do meu entusiasmo por fazer cada vez mais e melhor o meu trabalho. E é exatamente nesse ponto que eu queria chegar. Quero sempre fazer mais e melhor o meu trabalho. Não dá para direcionar minha atenção e esforço para ser melhor do que os outros. Só podemos – e devemos, acredito eu – ser melhores do que nós mesmos. Até porque não podemos nos comparar a ninguém. Cada pessoa é única. Cada um tem os seus pontos fortes e fracos a serem trabalhados.
Por isso, repito: só posso ser melhor do que fui ontem. O resto é conseqüência. Se eu focar minha energia no meu desenvolvimento e progresso constantes, aí sim posso me sobressair em relação aos outros. E, mesmo assim, isso nem sempre acontece, vide o medalhista fenômeno Michael Phelps. Por mais evoluídos que os outros nadadores sejam, é quase impossível derrotar o “anfíbio” americano. O melhor que os concorrentes têm a fazer é aceitar o fato de que serão coadjuvantes, e, no máximo, ficarem de olho no comportamento do cara, para entender o que o torna tão imbatível.
Aliás, já que tocamos no assunto, concluo esse texto explicando quem me ensinou a pensar assim. Quando eu competia, principalmente naqueles inúmeros anos de natação irritantemente matutina, era meu pai quem me aconselhava. “Filha, não interessa se você ganhou ou perdeu e sim se você fez o melhor que pôde.” Então, pai, aproveito a oportunidade para falar, de todo o coração, sobre minha vida profissional: graças ao seu exemplo e conselhos, sempre dei o máximo de mim e, hoje, durmo com a consciência tranqüila. E paz de espírito como essa definitivamente não tem preço! Obrigada pelos ensinamentos.
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