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MEU REINO POR UM CAVALO

A elegante Jorgina de Freitas não se dá por vencida, só faz as unhas em casa e não abre mão da seda por sobre seu corpo bem cuidado. Veio de baixo e venceu. Condenada a 14 anos de cadeia por desviar 112 milhões de dólares dos cofres públicos, o Supremo Tribunal Federal concedeu à advogada Jorgina o benefício de cumprir sua pena em regime semi-aberto, ou seja, o xadrez é só para dormir. Afinal, já se transcorreram 2 anos e 9 meses sem arruaças ou queima de colchões no presídio. Embora ainda falte recuperar mais da metade do que ela desviou da Previdência e escondeu sabe Deus aonde. Meia tonelada de ouro e 236 imóveis apreendidos a credenciam a retomar o estudo universitário e fazer pós-graduação em Direito Público. É um direito legítimo do presidiário de voltar aos bancos escolares, um passo decisivo na sua recuperação, tão importante quanto a faina árdua dos pastores em converter nossos marginais em crentes, livrando-os da prisão.
O jurista Célio Borja, ex-ministro do STF e da Justiça, defende que o Supremo não favoreceu Jorgina, segundo a doutrina brasileira do habeas corpus, pois a finalidade da pena não é a vingança, mas a reintegração do interno ao nosso convívio. Quanto à sociedade, cabe aplicar à fraudadora o maior castigo: o desprezo e a repulsa que ela merece. Diante do risco de nova fuga, é legítima sua tentativa de conquistar a liberdade, valor fundamental da vida humana. Se fugir, estará dando uma prova de inadaptação à vida social. A delinqüente.
O ministro do Supremo Marco Aurélio de Mello advoga a tese de que os ladrões do povo – os ricos e os famosos – não devem ser presos preventivamente, aguardando o julgamento em liberdade. Mesmo porque, geralmente, são réus primários – a primeira vez em que são pegos com a mão na botija -, têm bons antecedentes, quando não são idosos, hipertensos ou diabéticos. A fuga deles e a demora da Polícia Federal em capturá-los são prejudiciais à imagem do Judiciário como um todo, o povo não distingue a Polícia, o Ministério Público e os Tribunais, é tudo a mesma coisa. Marco Aurélio foi quem soltou o italiano de dupla cidadania e ex-banqueiro Cacciola, que obedeceu a seu instinto de preservação da liberdade preferindo viver num país mais sério e civilizado, onde a mídia e a sociedade não estão interessadas em prejulgar. 
Por ter desconfiado que uma cliente apresentara cheque e documentos falsos para pagar a conta de uma calça jeans, um segurança da Mesbla manteve-a em cárcere privado no subsolo da loja, num cubículo sem janelas por 4 horas, acusando-a de ladra e estelionatária. Condenada a indenizar em 300 salários mínimos pelo Superior Tribunal de Justiça, a empresa não terá como, pois está em processo de falência e Ricardo Mansur, seu dono – especialista em arrematar empresas concordatárias como Mesbla e Mappin -, ao ser avisado de que teria decretada sua prisão, fugiu para Londres e se encontra no dolce far niente. Enquanto aguarda que a ordem de prisão seja revogada, amparado no fato de a detenção cercear o seu legítimo direito de defesa, pratica o esporte da fina flor do hight society: o polo.  
Entre uma tacada e outra, em meio à cavalhada que dá o seu puro sangue, perdeu sua classe habitual ao se desesperar com Baloubet du Rouet, e xingou o melhor cavalo do mundo, aquele que cobre 200 éguas por ano. “É burro, igual ao Luxemburgo, um estúpido e imbecil que nos roubou a medalha de ouro, eliminando Rodrigo Pessoa ao refugar 3 vezes no mesmo obstáculo”. Enervado pelo vento, pelo esforço exagerado da prova e descompensado emocionalmente pelo fato de Rodrigo ter entrado mole em obstáculo fácil e perdido ponto. Baloubet não admite errar, não queria esbarrar no travessão, tudo com ele tem que andar nos trinques, e se acovardou para não cair em desgraça no tropeço – os garanhões também são delicados. Deus ouve a todos e castigou o melhor cavaleiro do mundo porque gozou com a cara da nossa seleção, manchada pelo amarelo que polui os nossos esportistas, a ponto de acovardar aquela droga de cavalo poltrão. Bastava um tapa na bunda para parar de fricotes, embora merecesse chicote ou esporas.
Meu reino por um cavalo.

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Antonio Carlos Gaio
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