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MITO DA CAVERNA

O ministro Mandetta aproveitou o entrevero com Bolsonaro para lembrar que leu mais uma vez “Mito da caverna”, escrito por Platão (427-347 a.C.). Estaria ele ironizando a alcunha de mito dada pelos apoiadores do Bolsonaro?
Platão foi um dos pais mais célebres da filosofia natural na Grécia Antiga e tradutor da natureza autêntica do filosofar socrático. Sócrates não deixou nada registrado de sua filosofia já que, diante da impermanência do pensamento, preferia os debates ao ar livre com seus discípulos e as contendas inteligentes com seus divergentes. Esse mito revela a relação estabelecida pelos conceitos de escuridão e ignorância, luz e conhecimento e é encontrado no livro VII da obra “A República”.
Descreve que alguns homens, desde a infância, se encontram acorrentados e imobilizados em uma caverna, sem poder se mexer ou espiar do lado de fora. Virados de costas para a entrada da caverna, veem apenas o seu fundo. Atrás deles há uma parede pequena onde uma fogueira permanece acesa. Por ali passam homens transportando coisas, mas como a parede oculta o corpo dos homens, apenas as coisas que transportam são projetadas em sombras e vistas pelos prisioneiros. Uma situação manuseada por outros homens do lado de fora da caverna. Certo dia, um dos acorrentados consegue escapar e é surpreendido por uma nova realidade. No entanto, a luz da fogueira, bem como a do exterior da caverna, inicialmente agridem os seus olhos, já que ele nunca tinha visto sequer um rasgo de luz. Até que se deslumbra com a luz do sol a iluminar tudo em contraste com o que antes só conhecia como um mundo desenhado por sombras.
Esse homem tem a opção de voltar calado para a caverna e manter-se como sempre havia vivido e se acostumado, ou se esforçar para se habituar à nova realidade, ou voltar para libertar os companheiros informando o que existe para além da caverna. Provavelmente, esse último correria perigo, pois eles não acreditariam no seu testemunho, já que a verdade era apenas o que conseguiam perceber da sua vivência na caverna, julgando-o louco e até o matando por trazer à tona tamanho delírio que iria tumultuar a existência de todos.
O mito platônico revela de fato o confronto do conhecimento com a ignorância. Sair da caverna escura para dar de cara com a realidade iluminada pela razão e estabelecer o pensamento crítico. Para refletir sobre utopias políticas, defender a educação para todos ou para identificar tendências totalitárias. O senso comum seria representado pelas impressões aparentes vistas pelos homens através das sombras. O conhecimento científico, por sua vez, baseado em comprovações, é representado pela luz.
O Mito da Caverna é uma alegoria sobre a maior parte dos homens que prefere permanecer na ignorância. Quem vive nas sombras não conhece as causas de seu cativeiro, e alguns sequer sabem que são pobres de espírito – também é assim no Plano Espiritual. Quem sai da caverna e entra em contato com as causas, fica tentado a permanecer lá fora, ao Sol, mas é importante voltar ao ambiente opressor da caverna e, de posse desse conhecimento, compreender a realidade como um todo e entrar no jogo político das sombras para lutar e mudar.
Não é um embate entre direita e esquerda, mas sim entre a luz e as trevas, entre o saber e a ignorância. Nesse mar de falsas notícias, desinformação e obscurantismo que elegeu Bolsonaro, Mandetta se destaca pela voz do saber, além do científico. Enquanto o presidente se recusa a sair da caverna de onde pode manipular os prisioneiros da mente, manter-se nas trevas como crítico das medidas de isolamento social para evitar a contaminação, e contraditoriamente se isolar em sua personalidade fratricida, sob a tutela de militares escalados por ele mesmo para protegê-lo de golpes ou impeachment.
Do tanto que aprontou como se fosse uma criança rebelde, o mito das cavernas acabou por gerar um outro candidato a mito, que lhe opõe: o Mandetta! Embora ainda não vencido o falso herói por condenar Lula sem provas: o juiz Moro! Com quantos heróis e mitos artificiais se constrói um Brasil?

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Antonio Carlos Gaio
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