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O POIA

Poia é um termo que caiu em desuso e serve para designar a pessoa preguiçosa. Estaciona num lugar e não tem coragem de levantar-se para coisa alguma. Incapaz de se mexer para ajudar quem quer que seja, pois não faz nada nem por si mesmo. Não quer nada com a hora do Brasil. Só de falar em trabalho, cansa. Deprecia os que labutam. Quer que tudo chegue às suas mãos sem o mínimo esforço. Não esquenta, justamente para dar um tempo, refletir e não tomar nenhuma atitude. Acorda tão tarde que perde a hora de ir para a praia e resolve parar no bar para pôr as idéias em ordem. Como se fosse possível.
Quando a virgindade pesava na assinatura dos contratos de casamento, não achava nada demais os sicilianos recomendarem aos recém-casados exibirem o lençol manchado de sangue. Reflexo de uma cultura machista que não deixava por menos, tinha de engravidar logo no primeiro dia, evoluindo depois para “cavalo amarrado ainda pasta”. A celebração da sociedade do poia com o vampiro.
Useiro e vezeiro em trocar idéias com esposas insatisfeitas de amigos do peito – o pecado sempre mora ao lado -, cujo percurso marcado por infidelidades conhecia. Para pegar as sobras de mulheres que transferem a culpa de serem obrigadas a trair para o sexo oposto. Por vingança, que se iniciou na falta de atenção e riscou o fósforo quando o olho guloso do marido despiu da cabeça aos pés a amiga que veio de longe – o mesmo olhar que a conquistou. Ela agora necessita de uma assistência social sem que o poia levante um dedo sequer, bastando uma voz aveludada como máscara para ele se servir dela.
O poia não casa porque é complicado o negócio do casamento, discutir relação apenas como estratégia de abordagem, relacionamento passa ao largo de seu dicionário, amante é o caso. Os casos que sustentam o cacho de penduricalhos que enfeitam seu orgulho e não criam raízes. Afinal de contas, é do tempo das marchinhas de carnaval de João de Barro, “Yes, nós temos banana, banana pra dar e vender… banana engorda e faz crescer”.
O poia aluga uma garçonnière, mas não abre mão da mãe, vai que se dá mal com esse mulherio. Seguro morreu de velho. Embora devagar quase parando, não dá pérolas aos porcos, tem que transparecer que é esperto. E viril, mesmo assim somente quando necessário, para não cansar. Escondendo seu rotundo fracasso de não haver sido o que nunca sequer suspeitou que pudesse vir a ser – vai morrer abraçado a essa causa infecta.
Não moveu o rabo um centímetro do ponto de partida, desde que se entende como gente – sua maioridade foi retardada. Dá volta, dá volta, e não sai do lugar, pior, se orgulha de seu descortino, quando sua mente se afina com a discriminação e desprezo aos pobres mortais.
Conservador ao extremo, o bofe tem a audácia de se considerar desadaptado à realidade, não merecedor do que as mulheres lhe reservam, a ponto de perder a cabeça e se socorrer no michê – opção responsável pelo incremento da hepatite C.
O poia se torna estúpido ao levar ao pé da letra a pose inconformista de não conseguir enquadrar-se em nada. Cogita se munir de antidepressivos para anular seu espírito crítico, afinal monta verdades que não se mantêm de pé. Verga sob o peso do esnobismo de que tudo ao seu redor não presta, suando em bicas, porque o deixa a um passo do cadafalso.
Brinca de anarquismo, uma ideologia que não se sustenta por não almejar o poder, é só desconstruir, demolir, arrasar quarteirão, assistir a ruína das instituições e a moral ao avesso, bastar-se nos escombros – o retrato fiel de seu lar como um templo em que se refugia de todos.
Na hora de ir para a cama com uma mulher, ele se deita primeiro e espera que ela se dispa, apreciando a vista. Explorando pudor, adequação da plástica ao perfil e sofreguidão pré-sexual, quando ela se desarma. Possui o dom de atrair parceiras que o deglutem, ao se colocar à mercê de disparates em nome do sexo… o poia é mesmo uma piada!
Prefere dar as costas na hora de dormir, não consegue dormir de frente, sequer grudado ou com as pernas entrelaçadas. Casando-se, quartos ou, no mínimo, camas separadas. Refletindo a fobia do mais perto se transformar em perto demais. Melhor cortar o momento mais esperado no sexo: o relaxamento da entrega. E enfrentar a insegurança da noite e recolher-se aos costumes de sua cela.

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Antonio Carlos Gaio
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