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O SENIL

Senil é considerado uma ofensa grave, todos têm horror em serem catalogados como. É associado a decrépito ou retrógrado, já que o vocábulo velho perdeu sua precisão diante de viagras, energéticos, colorantes, malhações e bisturis. A juventude bolina os senis, tachando-os de estressados, obrigando os avós a parecerem moderninhos, quando liberam geral os netinhos para transformar o lar na casa da mãe joana. A senilidade faz crescer o asilo no retrovisor. O ateu não quer nem pensar, aliena-se nos planos para ressuscitar.
O senil se defronta com o problema da franca decomposição do organismo, ora se apresentando arqueado a sinalizar uma corcunda, ora com uma fisionomia permanente de marcado para sofrer, ora se chocando com portas de vidro que não enxerga, ora repetindo à exaustão suas proezas para os mesmos ouvintes, ora acentuando a característica habitual de passar por cima das pessoas como um trator, ora exaltando os ídolos de sua geração e afirmando que nada de bom foi feito de lá pra cá. Se tornam ranzinzas ao concluírem que ninguém entende sua alma, desenvolvendo uma fragilidade que os isola numa redoma.
Merecedor de preocupação é o estado pré-senil que pode alcançar até os mais jovens, quando não exercem a faculdade de perdoar movidos por um orgulho desmedido. Denotam os primeiros sinais de rabugice quando se põem a organizar o mundo segundo a sua visão profética. Manifestam uma hipersensibilidade que os leva a se defenderem de supostos ataques contra sua integridade.
A maior prova de que você ingressou na senilidade é quando se arrepende de atitudes que deixou de tomar e de não ter mudado o rumo de sua vida. É como jogar ludo e cair na casa que o ordena a retroceder. Pior, é quando você alega que não sabia o que estava acontecendo nos bastidores para justificar o seu não comprometimento com as conseqüências.
A senilidade só se interrompe quando a morte se faz presente antes da hora aprazada, no pobre entender do mortal. Diante de perguntas que lhe são feitas cujas respostas conferem um ego embriagado a evidenciar uma excelente oportunidade desperdiçada em meio a desencontros que só serão reparados na infinitude do tempo.
O senil começa por divorciar-se da vida ao se recusar a pagar uma pensão que sustente suas idiossincrasias, temperamento e egoísmo. Liga o piloto automático e acende uma vela para Deus e outra para o diabo. Começa a falar sozinho para não abrir o verbo com seus próximos, queima amizades sem um pingo de culpa e animaliza o sexo – quando não o elimina – para dar vazão a seus instintos e ao estado primitivo a que regrediu.
O senil precisa urgentemente falar com Deus para esclarecer o que ele fez com sua vida.

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Antonio Carlos Gaio
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