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O SILÊNCIO DE DEUS

“Por que o Senhor permaneceu em silêncio?”, perguntou a si mesmo o papa Bento XVI quando visitou o campo de concentração de Auschwitz, onde 1,5 milhão de judeus foram assassinadas. Particularmente para um papa alemão, é quase impossível definir esse lugar de horror:
– No fim de tudo, resta apenas um silêncio aterrador, um silêncio que é um pranto sofrido a Deus. Como pôde tolerar isso? Onde estava Deus naqueles dias? Por que não se manifestou? Como pôde permitir essa matança sem limites, esse triunfo do mal?
Até mesmo o papa tem dias em que descrê de Deus – um nonsense absoluto do tamanho do Todo-Poderoso. Desceu do papamóvel e cruzou o portal do campo com o dístico em alemão “o trabalho liberta”. Voltou ao passado como Joseph Ratzinger, membro da organização da Juventude de Hitler:
Uma monstruosidade em que homens, mulheres e crianças foram destituídos de sua humanidade e dizimados com métodos industriais. Um paradoxo entre a onipotência de um Deus bondoso e a existência de maldades e perversões que ultrapassam, na sua amplitude, a mera expiação de pecados e carmas. Males morais que decorreram de uma criação que não pode ser perfeita, apesar de vinda de Deus, justamente para os homens exercerem seu livre-arbítrio e auto-regularem o divino que os habita. A criação do mundo, até onde o conhecimento humano alcança, não pode ser um mero acaso, tamanho o lendário que cerca o percurso de cada ser humano em sua evolução. Mesmo quando é interrompido pela estupidez da guerra.
Como então explicar o desaparecimento de tantos heróis, covardes, kamikazes e patriotas? Por que tirar de nosso convívio seres brilhantes e insubstituíveis, ó destino cruel? Somente um Deus muito do grande para nos inteirar a respeito do desenlace desses personagens. Pior é pra quem fica, não cabe descanso se você tem que fazer sua parte, uma missão da qual você precisa dar conta para depois não vir com desculpa esfarrapada dissimulando sua omissão. Lamentando ter passado a vida em branco, por não haver dado um passo firme e crer. Em meio às balas perdidas, à inveja que gera violência e ao amor que não encaixa mais personalidades tão díspares.
Como aceitar o passado sem culpa? Pois se nos conflitos cotidianos não conseguimos evitar o bate-boca desnecessário, a implicância intermitente e os abruptos rompimentos seguidos de chá de sumiço que equivalem a declaração de ódio para sempre. Preferindo povoar o coração com frustrações e mágoas do sucesso e felicidade do próximo. Como apagar os rastros de nossas pegadas sem poder dizer que eu não era aquela pessoa que aprontei e fiz mal às helenas até então puras e imaculadas? Tentando se despedir de uma identidade da qual não tinha consciência para ganhar um novo espírito.
Somos partes de um todo onde todos também são partes de todos maiores, em que o significado da existência de cada um se amplia se considerado em relação à sua totalidade, donde aí se encaixam, na justeza de um sapato velho – o Universo.

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Antonio Carlos Gaio
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