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OS ACADÊMICOS

Originalmente, acadêmico era considerado filósofo da escola de Platão. Posteriormente, foram surgindo outros eminentes sábios que criaram liceus que ascenderam a estabelecimentos de nível superior, estimulando professores e alunos a aspirarem a um dia serem acadêmicos. O que obrigou a elite erudita dirigente a criar as Academias: Letras, Belas-Artes, Medicina, e por aí vai. Iniciando-se uma briga de foice para se tornar membro de uma reputada academia. Ao se institucionalizar as Academias, como é de praxe, estabeleceram princípios para que se circunscrevessem dentro das normas para não ferir a boa ética, resultando numa academia ao gosto dos acadêmicos. Dentro do puro academicismo. Seguindo rigorosamente os modelos consagrados pela tradição, convencionalmente infensos a inovações. Primando pela falta de originalidade, que compromete a sinceridade de propósitos, à medida que a hipocrisia ganha corpo para manter privilégios. Ao se preocuparem mais com a forma do que com o conteúdo, tornaram-se pretensiosos.
Os acadêmicos gostam de ditar regras. Se forem mestres, então, ficam à vontade: determinam o vocabulário, o tom e até o modo de pensar dos seus pupilos. Adoram citações em latim, jogos gramaticais, pompa e circunstância. Quanto mais ininteligível, melhor. Assim eles podem mostrar sua inteligência que só o seu próprio clubinho compreende. É preciso ler os autores certos. De preferência, todos estrangeiros. Uma palavra do jargão popularesco indevidamente encaixada pode invalidar toda a argumentação do aluno. Embora um verdadeiro dinossauro, o acadêmico se considera vanguarda. Ainda que sua mente retrógrada não entenda o que significa isso.
Acadêmicos, embora o nome esteja associado aos imortais, vão muito além de qualquer instituição que os abrigue. Eles são sua própria instituição, já que se consideram muito mais importantes em sua individualidade do que qualquer instituição. O Olimpo é o seu lugar.
Se forem ph.D, reconhecemo-los pelos títulos de suas teses: Interpretação da Natureza Morta à Luz da Psicanálise, Identidade do Quinto Sexo – Um Mergulho nas Origens, Quarta Idade – Incursões pela Futurologia, Papa Negro: Advento do Sincretismo Religioso e o Fim do Celibatarismo, Pontos de Tangência entre Pedofilia e Incesto, Dalai-Lama na Casa Branca: Solução para a Complexização da Violência nos Estados Unidos.
Vaidosos, precisam de seguidores, de uma corte. Competitivos, não suportam o sucesso dos outros. Atuam pela verborragia. Se o interlocutor não procurar abordar assuntos de seu domínio, fecham-se em copas e tornam-se chatos.
Embora seja do conhecimento geral que a verdade do homem sempre contém falhas, lacunas e até contradições, basta que ela funcione bem o suficiente para que os acadêmicos satisfaçam a exigência do seu querer poder. Foucault já nos havia advertido sobre a relação íntima entre saber e poder. Apenas não previu que o íntimo pode descambar para o promíscuo, em virtude da libertação da sexualidade passar a reger boa parte de nossas atitudes.
Quando sentem que irão ser suplantados, os acadêmicos se distanciam. De tanto lutarem pelo poder que advém do saber, se desgovernam emaranhados em baboseiras, o ego exacerbado pelo orgulho entra em espiral, nada mais faz sentido para eles, e caminham em direção ao rio até chegar ao fundo – desaparecendo de cena, como Virginia Woolf.
Temem a depressão que o rodamoinho de suas idéias provoca e procuram fugir, que nem o diabo da cruz, do pessimismo resultante de não encontrarem uma solução para o mundo. A sensação de impotência incomoda, prenuncia a fraqueza de espírito e dores na coluna, alergias e enxaquecas se acercam. O melhor a se fazer é transitar da mente para o corpo. Tanto que se ampliou o significado de academia para estação do corpo. Sob o disfarce de estar zelando pela saúde física, até preventivamente, academia acabou se transformando no culto ao corpo. A uma estética imediatista em resposta à frustração intelectual.
De tanto darem voltas em torno de si mesmos, se descobriram nas escolas de samba de igual modo quando o Brasil foi achado pelos portugueses. No rodar das baianas, a raiz do samba transformou as escolas em academias, onde a realeza da cultura africana se sobressaía e ditava cátedra, dizendo no gogó o que nenhum livro jamais escreveu. E iniciaram a pesquisar, elaborar teses, interferir nos enredos e julgar desfiles. Incorrigíveis, esses acadêmicos.

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Antonio Carlos Gaio
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