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RIO VOADOR

Ao longo de mais de sete anos, o fotógrafo Sebastião Salgado mergulhou no bioma amazônico para retratar todo o poder da Natureza que lá habita – e ai de quem não se dobrar, pois dela um dia virá a sentença final: o fim das chuvas, o volume dos oceanos baixando irreversivelmente de forma preocupante, as nascentes ressequidas, o leito dos rios refletindo aridez e deserto.
Sebastião Salgado adentrou na espiritualidade da floresta para entrar em contato com a ancestralidade dos indígenas ainda presente em seus hábitos e costumes, em sua fisionomia e personalidade. Aprofundou-se em forças além da natureza humana, que sustentam o equilíbrio dos ecossistemas da Amazônia e, por tabela, a própria vida. À sombra das nuvens, sob o impacto de chuvas torrenciais que explicam a vegetação espessa e fechada, inundada por água permanentemente. Das expedições por terra, água e ar foram geradas imagens que traduzem o que há de mais extraordinário na maior floresta tropical do mundo – e, para muitos de nós, uma realidade pouco conhecida. Árvores centenárias e plantas com incontáveis propriedades medicinais; o pico da Neblina, na fronteira com a Venezuela, o ponto mais alto do Brasil (2.993 m); centenas de povos indígenas, com mais de 180 línguas e culturas diferentes, muitas das quais sem nenhum contato externo.
Os indígenas têm um conhecimento fantástico da floresta. Uma relação completamente diferente do chamado civilizado com a natureza. Eles são parte da biodiversidade. Antes dos europeus chegarem, a Floresta Amazônica tinha cerca de 8 milhões de pessoas, que se concentravam principalmente nas margens de grandes rios, como o Amazonas e o Tapajós. Atualmente, vivem na Amazônia 306 mil indígenas, tendo sido retratadas as comunidades dos povos Awá-Guajá, Zo’é, Suruwahá, Yawanawá, Marubo, Asháninka, Korubo, Yanomami e Macuxi, agregados à floresta, rios e montanhas, formando um denso universo que influencia o olhar do fotógrafo com imagens impressionantes, em sua grande maioria mostradas ao público pela primeira vez.
Sebastião Salgado voou por semanas até capturar um fenômeno da Amazônia de enormes proporções: o rio voador. Rios que fluem da selva, como torrentes de vapor que se formam sobre ela, dirigindo-se rumo à atmosfera todo dia para irrigar o continente, garantindo a umidade da área agrícola do Centro-Oeste e do Sul do Brasil, se espraiando pelos países fronteiriços. Essencial para o clima em várias regiões do Brasil e da América do Sul. Rio voador, também chamado de rio aéreo, é o nome popular dado às grandes camadas de vapor na região Amazônica. As dimensões do fenômeno lembram, de fato, a grandiosidade dos rios que circulam abaixo das nuvens. A formação pode ser observada, em boa parte, nas colunas de vapor d’água com até 3 quilômetros de altura da Amazônia.
Na região Norte, o calor faz o Oceano Atlântico evaporar em grande volume. A Amazônia então vira uma espécie de ímã com a ajuda do vento. Ela atrai a umidade evaporada do oceano e cria chuvas para si, o que ajuda a manter vivas as suas bilhões de árvores. A partir daí, as plantas entram em cena. Elas transpiram a água da chuva e “devolvem” a umidade para a atmosfera. O vapor sobe em grandes volumes, como uma “chuva ao contrário”, e cria nuvens imensas a cerca de 15 quilômetros de altura. O vento sopra as nuvens grandes até a região dos Andes, a oeste da América do Sul. Quando chegam por lá, elas “batem na parede” de rocha e retornam em direção ao sul do continente, onde umidificam e viram chuvas. A umidade e as chuvas da região Centro-Oeste, Sudeste, Sul e de países como Bolívia, Uruguai e Argentina são geradas, em boa parte, por estes rios que passam rapidamente pela cabeça de milhares de brasileiros. Além disso, parte das nuvens que “batem” contra os Andes viram chuva e também abastecem as cabeceiras dos rios – desta vez, os rios terrestres.
“O agronegócio brasileiro só existe e é garantido pelos rios aéreos da Amazônia”, enfatiza Salgado. “Ninguém é capaz de imaginar uma chuva amazônica, são como explosões atômicas. É uma pressão que parece gerar um cogumelo.”
O fotógrafo reitera que “esse conjunto de comunidades indígenas e bioma amazônico constitui a maior reserva de riquezas do planeta. Principalmente neste momento em que o mundo está ameaçado pelo aquecimento global acelerado, retirado o filtro de proteção da floresta e dos territórios indígenas, permitindo a penetração da marginalidade violenta na Amazônia. Nós precisamos da Floresta Amazônica para manter a biodiversidade, a distribuição de umidade pelo globo e nos proteger. Se destruirmos a Amazônia, ela vira uma bomba de carbono que nos destruirá”. Não à toa, 8 dos 10 municípios brasileiros que mais emitem gases efeito estufa, vilões do aquecimento global, estão na Amazônia, e pelo mesmo motivo: perda de floresta por desmatamento e incêndios.
Salgado afirma que não tem certeza sobre o futuro, mas se sente esperançoso, concluindo: “A espécie humana vai aprender a lição e um dia iremos evoluir e conviver em paz e harmonia no planeta. Voltaremos a ser biodiversidade e todos os seres vivos do planeta gozarão da riqueza que a paz traz aos nossos corações”.
Sebastião Salgado acredita na transformação que irá se operar no mundo, na contramão do pessimismo. Por ser esse o momento propício para você aprender que sempre é possível ir além do que pensaria poder, se alcançada a melhor vitória, que é de conquistar sua própria confiança, segundo Platão. Baseado na maior glória, que é a de levantar-se sempre que cair, segundo Confúcio, não insistindo em permanecer de pé somente para demonstrar força e resiliência. Até para o contendor se iludir, vendo-o no chão, e julgar-se vencedor. Baixando a guarda ao perder a concentração, o que permite aos Espíritos da floresta expulsarem os exploradores da Natureza do intocável e sagrado Reino de Deus na Amazônia. Ai de quem duvidar!

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Antonio Carlos Gaio
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