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VASCO DA GAMA NA SEGUNDA DIVISÃO

Em agosto de 1923, é dado prosseguimento a mais um capítulo do acasalamento do português branco com a negra escrava nas senzalas que miscigenaram o Brasil e imprimiram sua cara, incomodando a turma do fraque e cartola. Os mestiços do Vasco da Gama quebraram com a estrutura elitista e racista predominante no futebol, desde que Charles Miller e Oscar Cox trouxeram a primeira bola oficial e o conjunto de regras estabelecidas pelos ingleses para a prática do esporte. Nem bem chegou à divisão principal, o Vasco da Gama conquista seu primeiro campeonato com jogadores negros e mulatos sem emprego fixo e que viviam apenas para jogar bola. Balançaram o coreto dos clubes tradicionais – Fluminense, Flamengo, América, Bangu, Botafogo e São Cristóvão – e seus jogadores brancos, de formação universitária, pertencentes a famílias de posses. Inadmissível uma elite que monopolizava o futebol ser subjugada por um time formado por escalões inferiores da sociedade, desafiando o seu poder ao contratar o técnico uruguaio Ramón Plattero e ganhar todos os jogos no 2º tempo, em virtude de uma condição física superior, associada ao talento. O que provocou um alvoroço na cidade do Rio de Janeiro, unindo todas as torcidas contra a comunidade portuguesa, de enorme presença no controle de armazéns, restaurantes, botequins, farmácias e outros pequenos negócios.
Sagrado campeão o Vasco da Gama, a turba indignada saiu, em passeata, de Álvaro Chaves até a Lapa, e se concentrou diante do restaurante Capela, clamando pela expulsão de jogadores de origem humilde, sob a acusação de que praticavam o profissionalismo. Ao vencer os adversários, o Vasco ofertava a seus players galinhas, porcos e patos, premiação que acabou apelidada de “bicho”. Não conseguindo provar, determinaram que os jogadores deveriam aprender a ler e escrever – os atletas vascaínos eram analfabetos. Um professor foi providenciado às pressas para ensiná-los a assinar a súmula dos jogos. Chegaram ao cúmulo de criar uma nova liga e exigir do Vasco um estádio do tope do Fluminense. Espicaçada e amesquinhada, a colônia lusitana raspou o tacho, tirou o dinheiro de debaixo do colchão e iniciou a construção de um estádio em São Januário, com capacidade para 35 mil espectadores – o maior da América do Sul em 1927. Concluído em 10 meses, uma resposta à altura ao racismo e discriminação aos portugueses.
80 anos depois, o Vasco foi rebaixado a um time de segunda categoria, remetido à 2ª Divisão do Campeonato Brasileiro. Meteu os pés pelas mãos ao não resistir diante do profissionalismo avassalador que tomou conta do futebol no mundo e que deu um fim ao passionalismo barato de dirigentes. Logo o Vasco, que deu um belo exemplo de profissionalismo quando iniciou a varrer o amadorismo do futebol carioca, que datava de 1906, viciado em privilégios e subterfúgios que permitiram aos fundadores da liga acumular títulos. 
A pior lição do futebol: não aprender a fazer o dever de casa. Ser derrotado em seus próprios domínios, em seu próprio estádio, orgulhosamente construído em reação à canalha de uma aristocracia falida, forjando a têmpera do time suburbano, do time vira-vira, do Machão da Gama! Agora, só resta erguer a cabeça, se lançar nas costas dos adversários, penetrar na área e meter muitos gols para retornar à 1ª Divisão, de modo à torcida vascaína gozar com aquela abundância que torcedores outros tentam, tentam, mas não conseguem.

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Antonio Carlos Gaio
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