Os filhos de militares e torturadores argentinos decidiram se unir e tornar-se uma nova voz na luta pelos direitos humanos e contra os crimes de lesa-humanidade cometidos por seus pais durante a ditadura de 1976 a 1983. Uma vida de sofrimento e solidão sendo tratados como ovelhas negras por suas famílias por terem ousado denunciar e repudiar a participação de seus pais na repressão a opositores do regime militar. Os filhos de torturadores se juntam à luta de mais de quatro décadas das Abuelas de la Plaza Mayo e demais vítimas da ditadura, ou seja, vítimas de seus pais. Não é fácil aceitar e chegar a dizer “Meu pai foi um torturador. Cuidado, não são uns velhinhos bonzinhos que merecem ser perdoados. Nada disso. São genocidas”. Os filhos desses torturadores não querem mais ser cúmplices de um pacto de silêncio, desejando colaborar com informações e depoimentos, principalmente pretendendo obrigar seus pais a dizerem tudo o que sabem. Não se pode guardar debaixo do tapete horrores como o do militar que anestesiava presos políticos para que eles fossem atirados ainda vivos ao mar, nos chamados voos da morte. Está em jogo a lealdade a seus pais versus a lealdade à Humanidade. Construir um legado que querem deixar para seus filhos e gerações seguintes. Anseiam sair dessa mentira e ajudar a reconstruir a memória coletiva dos argentinos. Como se pode constatar pela Argentina, a mentira faz mal à saúde do país. Menos no Brasil, onde todos os poderes constituídos habitualmente mentem à população, quando não guiados pela mídia. Onde o juiz Moro, condenando Lula à frente das pesquisas, deu início a afastá-lo da campanha para se eleger presidente, prestes a ser trancafiado sem provas. Onde se anistiou a ditadura militar e os torturadores ainda vivos continuam soltos e acobertados pela mesma índole e padrão de conduta predominante no país que fecha os olhos para as milícias e a Polícia Militar em conluio com os traficantes, quando o dinheiro não investido em educação redundaria em presídios superlotados, conforme advertira a lucidez e a visão do professor Darcy Ribeiro.
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