Tem gente que grita suas verdades.
Tem gente que faz delas fumaça.
Tem gente que se entorpece para esquecê-las diariamente.
Tem gente que bebe pra apagar.
Tem gente que fica doente quando não sabe lidar com a dor de certas verdades.
Tem gente que viaja tentando fugir dos problemas.
Eu sempre fui de falar e comer.
Lembro que quando não podia falar em casa, quando não conseguia sequer me escutar, eu comia. Compulsivamente.
Hoje, prefiro comer meus sentimentos. E deixá-los bem mastigadinhos dentro da boca antes de engoli-los e deixar que meu corpo se livre naturalmente deles.
Agora, só me falta aprender um pequeno grande detalhe: comer de boca fechada, sem emitir som. Não porque é falta de educação. Caguei pra isso. Não por acaso tenho o estômago e o intestino delicados e quando arroto é em alto e bom som. Me faz mal segurar ou tentar conter arrotos. No entanto, estou começando a entender que certas verdades só são palatáveis a mim mesma.
É preciso saber deixar os outros com as inconsciências deles, simples assim. E mais: os meus textos, como esse, também não são pra qualquer um. É pra quem quer e está preparado para ler.
E, por mais dolorido que seja, muitas vezes são os desconhecidos que vão entendê-lo melhor do que aqueles que me cercam. E tá tudo bem. Como bem disse Manoel de Barros, “liberdade caça jeito”, e cada palavra não ouvida que se transforma em escrita, um dia encontra seu leitor. Quem sabe ele também vai encontrar nos meus textos o olhar compreensivo para si mesmo que quem estava perto não lhe deu?
Mariana Valle
Segunda, 11 de agosto de 2025.
Texto escrito após ler “Palavra alguma”, da série Crônicas de Domingo, de Mell Renault.
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