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É DE PROPÓSITO: 12 – QUEM TEM FAMA DEITA…EU TÔ DE PÉ

“Quem tem fama deita na cama”

é um ditado muito verdadeiro até certo ponto. Vale quando ainda se está tonto de tanto viver pelo que disseram para e sobre você.

Palavras têm poder. E a gente geralmente não sabe usá-las.

A gente não sabe calá-las quando inúteis, fúteis e erradas.

E quando escrevo sobre silêncio, não falo só do que sai das bocas tagarelas como a minha.

Falo das palavras que quicam sozinhas dentro da gente, na nossa mente aderente, onde gruda tanta sujeira.

Hoje de manhã, tive uma discussão com meu marido que, especificidades à parte, muitos dos casais têm. Sobre os deveres de casa, as tarefas do lar.

Muito se avançou contra o machismo, mas ainda falta muito para melhorar, para que um dia este nosso térreo lar seja justo e equilibrado.

O Brasil e o mundo ainda vivem a crença arraigada, mesmo quando não tão aparente, porque disfarçada, de que cuidar dos filhos e da casa é coisa da mulher. E é. Mas também igualmente é, ou deveria ser, coisa de homem. Cuidar do canto onde se mora, dos filhos que são nossos, ou por nós foram adotados, deveria ser coisa de quem mora na casa, independente se o casal se casa, se um deles é pai ou mãe e bateu as asas, independente do gênero com o qual um ou outro se identifica.

Contudo, todavia, porém, a mulher sempre quica como quem vai e vem, como bola de vôlei na parede, no chão e na rede, pra lá e pra cá tentando dar conta do lar, enquanto corre atrás do tão caro dinheiro.

E se pra ela em algum momento bate um desespero, ela é que tá maluca, histérica da cuca, porque reclamou com o marido, que não quer ficar nessa de acumular funções e usa do recurso de diminuir a histórica dor da mulher só pra continuar fazendo o que quer, que é se manter o macho.

Eu não sou mais capacho do que guarda a história. Seja essa a pessoal ou a coletiva.

E o interessante desta minha briga é que somos todos muito mais parecidos do que nos damos conta.

Como eu disse no outro capítulo, não vou mais tocar no megafone o disco arranhado com tudo da minha família e do passado que deu errado.

Eu sou uma mulher de fases. Uma geminiana de quases. Uma pessoa que teve momentos de depressão.

É muita pressão na nossa cabeça presa por tantos preconceitos.

Estou escrevendo estas linhas numa madrugada na sala, sozinha, às vésperas de ir na minha primeira consulta de uma Neuropsicóloga. Eu faço terapia com a Corrita há 6 anos. Gosto dela porque ela tem uma visão muito ampla e completa sobre psicanálise e psicologia. Ela não me prende em nenhuma caixa vazia. Ela me vê como um todo. Um corpo físico, emocional e espiritual. Que pode ser terreno, mas também celestial, porque assim somos todos.

Comecei a estudar PNL, Programação Neurolinguística, e só alguns primeiros passos dados nesta pista, já me elucidaram com exemplos de como podemos moldar nossos comportamentos. E é exatamente porque não caibo em caixas, que tenho que estudar, investigar, entender e aceitar, para poder transformar e ir além de mim mesma.

Eu, por vezes, sentia que andava como uma lesma, mas hoje eu voo rumo ao meu destino. Repito o nome do livro. É de propósito.

Não é por acaso que estou com o Pedro. Meu amor, meu marido e papai dos meus senhores bebês de quatro patas. Quem conhece nossa história sabe como a vida nos fez nos conhecer, mas posso contar em outro capítulo pra você que me lê. O lance deste romance é que hoje, especialmente neste dia, de manhã, em agonia, ele veio me dizer que a vida toda foi obrigado a ouvir que “não fazia nada”, não trabalhava, só porque é surfista, estereótipo do garotão. Trabalha sim, desde cedo, só que hoje de bermuda e chinelo, com carinha de pirralho e leveza, um sorriso no rosto com a certeza de que não vale a pena se estressar.

Ele nasceu no dia 24 de outubro. É o dia do anjo universal. E assim ele atua na vida de quem está próximo. Sempre com alguma piada, um toque de leveza, disfarçando a sua consciência do que muita gente não vê. Ele não gosta de ler. Sim, o marido da escritora. Mas ele lê as pessoas e discretamente as ajuda. É escorpiano, assim como meu ex-marido e o meu falecido pai…

Ele se esconde. Pela primeira vez entendi porque dói tanto nele essa coisa de ouvir que ele não faz nada. Assim como dói em mim qualquer um dizer, como ele disse hoje, que eu sou “retardada” e, se hoje estou produtiva, na fase mais lenta eu não fazia nada, etc, etc. “Hoje você está bem, mas até quando?”, ouço dele e tantas vezes ouvi da minha mãe e do meu pai e de outros. Eles têm seus motivos. Mas eu também. Só hoje eu me vejo bem.

Depois do conflito, em que dei uma de “mulher histérica, louca de tanto grito”, é que me dei conta. Eu, que já perdi as contas do quanto entrei na histeria da minha mãe, hoje sei que não deito mais em nenhuma dessas famas. Eu disse pra ele: “não admito que você me chame de retardada”.

A mudança do termo retardado para especial e excepcional é importante. Eu não tenho nada disso, é fato, mas hoje me coloquei no lugar de quem tem qualquer uma dessas excepcionalidades e ouve essa palavra: retardada.

Porém o melhor é que, ainda hoje, ao final da discussão, já sem gritos e calada, rapidamente me mudei pro lugar em que homem nenhum mais vai me tirar do meu meio, como minha mãe já não me tira mais há tempos.

Fazendo terapia a contento, já aprendi a lidar com ela do jeitinho que ela é e hoje moro na casa dela de novo sim, mas não mais como a filha co-dependente com tanta troca de pesos. Minha relação com ela hoje é leve, porque é assim que eu estou. Então por quê eu haveria de me flagelar entrando na caixa da ignorância de qualquer outro? E quando falo em ignorância, não é no sentido pejorativo. É de quem ignora o que está dentro de mim, pelo simples fato de que ninguém está a não ser eu.

Eu reli este capítulo até aqui e achei que não faltava nada, o recado do dia já estava dado, mas literal que sou, resolvi repetir o seu título com mais profundidade. “Quem tem fama deita na cama”, mas eu tô de pé. Eu despertei meu bem. Posso até ter sono e querer deitar de novo, mas, uma autoconsciência acordada não é coisa que se desliga assim. E se eu dormir para fugir de algum baque, meus caros, quem nunca? Melhor que beber ou usar qualquer outra droga. É só não perder o compromisso com estar inteiro na vida. Dormir faz parte. Muito importante, aliás. É quando durmo que me encontro em projeções astrais, mas, por hora, deixa quieto. Esse papo não é fácil.

Só sei que o espírito não dorme e o meu tá super “on”, mas a gente vive hoje no plano terreno, nesta dimensão quase rasa, onde é a matéria que manda. Isso tá se transformando. Estamos evoluindo sim, mas ainda há muita ignorância a ser sanada. Muita cura a ser providenciada. Muita terra pra ser enterrada, águas a serem jorradas, fogo para queimar. Falta muito pra gente virar puro ar. E eu já nasci voando, vendo as luzes coloridas circulando à minha volta.

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Antonio Carlos Gaio
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