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O COMPLEXO DE CORNO

“Você me deixa muito solta. Ao mesmo tempo em que me sinto presa a você. Gostaria que você me protegesse mais, que estivesse mais presente na minha vida. A cada dia que passa, me sinto mais medrosa, não consigo abrir mais espaço, abrir a guarda para outra relação, porque não quero… correr o risco de te perder.”
Esse fragmento de discurso em tom de amor dilacerado não contamina os habitantes do Complexo de Corno, uma ilha que cresce num continente de insensibilidade onde proliferam casais que vivem em regime de escora, ambos não se sustentam se um não der a mão ao outro.
Ele ainda não é corno, mas inconscientemente se oferece em sacrifício ao se dizer apaixonado, exigindo dela uma atenção tal como a criança que explora a mãe. Mas não comparece como homem: não participa, não ouve, não elogia e sequer repara na mulher, porque quer sempre estar na berlinda. Se acha o bambambã, mais importante que tudo, só tem olhos para quem o sirva. Declara não querer perdê-la e não poder viver sem ela, mas não presta atenção na mulher que tem.
Ele não está à altura do varão que pensa que é, só tem pose. Não tem a pegada que caracteriza o homem gostar de mulher, quando a aperta num canto e, com o olhar, revela quanto a deseja. Nem ao menos sabe explorar os esconderijos que a mulher guarda em seu corpo… e a insatisfaz. Quando não a deixa chupando o dedo. Não tem a menor noção de que já está desenrolando o tapete vermelho para o diabo entrar em sua casa.
É o tipo de homem que estimula a mulher a uma vida sexual dupla. Ela agirá às escondidas. Sem envolvimento romântico. Para resguardá-lo do papel de corno. A mulher do corno é, antes de tudo, uma mulher forte, com potencial, que se distingue no que faz, que adora parir e ter filhos – uma desculpa para continuar a ser do jeito que é. Tem medo de desembestar caso se separe do egoísta do cornudo. A bela da tarde é capaz até de dar um remédio para o marido dormir enquanto dá um pulinho na esquina e volta correndo antes que ele acorde. Prefere preservar o casamento ao estabelecer um jogo em que nenhum dos dois dá conta de si.
O corno é uma figura de ficção, muito exaltado no lendário popular que adora fazer a caveira de quem é traído pelo parceiro, quando não existe traição no instante em que o amor acaba. Precedido por um desamor que se instalou com a falta de empatia, na perda de afinidades, o amor que não mais se encaixa. O amor insuficiente que virou amizade quando muito. O amor que o ciúme destruiu porque a impaciência não abriu espaço para a tolerância. O amor pulverizado pela competição, falecendo na submissão. O amor que perdeu substância na alienação ao chamar o marido de pai e a esposa de patroa. O amor devorado pela inapetência.
Com que sentido se manter fiel se o vínculo afetivo se desfez? Jaz longínquo o amor à primeira vista. O casamento tem direitos e obrigações, mas o amor só tem compromisso com o amor. Entre restar falido e renovar-se com outro amor, a opção é a esperança. Quem preferir, banqueteie-se com o complexo de corno!

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Antonio Carlos Gaio
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