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O HOMEM QUANDO ESTUPRADO

É a maior vergonha que pode acontecer para o homem que se afirma macho e que se declara heterossexual, quando é enrabado por outro à força. Só assim compreende até onde a violação de uma mulher humilha e como a sevícia machuca sua alma ao ser obrigado a fazer o que não quer, de modo algum.
O absurdo que é ceder mediante a violência, segundo o relato do sargento Michael Matthews: “Quando tinha 19 anos, ao pegar um atalho no caminho de volta para o dormitório, depois de um dia de trabalho na Força Aérea Americana em Missouri, nos Estados Unidos, fui atingido na cabeça quando estava escurecendo, caindo inconsciente. Acordei com três caras fardados me sacudindo, julgando que queriam ajudar-me, mas logo percebi que não me deixavam levantar, sobrevindo chutes e socos no instante em que comecei a gritar. Preveniram-me que me matariam se eu não fechasse a matraca. Dois deles viraram-me de bruços e me imobilizaram, com o terceiro baixando minhas calças. Aí mesmo é que mais esperneei e mais fui agredido, com uma voz cruel vinda de trás: ‘Aposto que você vai gostar disso’. E me sodomizaram. A dor era lancinante e eu só pensava na morte que viria de sobremesa para eles”. Matthews é personagem do documentário “A Guerra Invisível”, sobre estupro de homens num meio em que não se admite covardia, não cabe recuo e o código de honra vem em primeiro lugar.
Como se o assassinato servisse para apagar os vestígios de como os Estados Unidos são aptos para desencadear guerras por todo o planeta, mas não conseguem estancar a sangria de militares de sexo masculino se converter na maior população vítima de estupros, superando as mulheres fardadas. Dois terços nunca prestam queixa às autoridades, pois temem ser expulsos, rotulados de homossexuais, impedindo-os de dar seguimento à carreira militar.
A escalada de traumas sexuais nas Forças Armadas prossegue com Bill Capshaw, estuprado por seu colega de quarto numa base do Exército na Alemanha quando tinha 17 anos, obrigado a dormir ao seu lado durante 18 meses e diariamente apanhando. Ninguém se importava com seus hematomas e de ter perdido 25 quilos, sendo mandado de volta para o quarto, mesmo relatando as agressões sofridas – homem que é homem reage. Até que finalmente foi dispensado da tropa para se refugiar no seu quarto por cinco anos, na casa de sua mãe. Seu estuprador tornar-se-ia um dos maiores e mais cruéis assassinos ao sumir com 17 pessoas, morrendo espancado na cadeia.
Se atentados sexuais são uma das duas maiores pragas das Forças Armadas, a outra é o suicídio. Se você tem 17 anos e está implorando por ajuda, e ninguém te ouve, o que resta fazer? Ou tenta se suicidar ou fica doente por muito tempo, por anos a fio, tomando tranquilizantes diariamente. A maioria levou de 20 a 30 anos para confessar seu martírio pois essas histórias dilaceravam sua alma – quebraram o seu espírito – como um intermitente pingo d’água vazando na pia ao longo da madrugada, não o deixando descansar e desanuviar a mente.
Quando conseguiam se libertar da escravidão sexual que os aviltava, não queriam sair do quarto morrendo de vergonha, tomando banho e se lavando o melhor que podiam da sujeira entranhada, prostrando-se na cama sem vontade de comer e de pôr os pés na rua, desenvolvendo um comportamento paranoico: sair de casa, só armado, evitando lugares escuros e traçando rotas de fuga.
Hoje é a psiquiatria quem recolhe os restos humanos de instituições militares desgastadas pelo estresse das guerras do império americano, para evitar que um coma ao outro ou acabem se matando.

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Antonio Carlos Gaio
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