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CAPÍTULO LV – ONDE NOS ENCAIXAMOS?

Eis o relato de Chico Xavier numa de suas visitas ao meu avô Manoel Jorge Gaio (desencarnado em 1954), quando ouviu a narração sobre o sonho de minha avó que levou-os a criarem a Fundação Marietta Gaio, em 1932. Sonhou que estava numa embarcação, da qual via outra em tremenda dificuldade. Da popa à proa, tudo era perturbação e gritaria. Dir-se-ia que afundava nas águas ou, não entendendo a linguagem dos marinheiros, que não conseguiam se comunicar entre eles. Não se percebia se os homens de maior responsabilidade inutilmente davam ordens, através dos brados que desferiam, ou se os marinheiros se amotinavam, ameaçando de morte os seus próprios chefes. Estranhava os passageiros em sua desesperada disposição para agredir, matar ou morrer, atacando furiosamente os companheiros de viagem. Pareciam todos incapazes de notar os panos brancos acenados da embarcação de Marietta para oferecer-lhes socorro e amparo. A balbúrdia era imensa. Marietta chocava-se com quem se atirava às águas ou eram lançados ao mar, condoendo-se com a grande quantidade de mães que se jogavam ao oceano carregando crianças. Nesse instante, despertou, tomando consciência de si mesma e do mundo em miniatura que, através do sonho, alargou sua visão.

Fez uma longa pausa e, enxugando os olhos e a face lavados por lágrimas, dirigiu-se a meu avô:

– Passei a refletir em nosso tempo invadido por tribulações nas quais descobrimos o sofrimento de mil faces, e reconheci que estamos à beira de monstruoso fenômeno que parece avançar em todas as direções. Gaio, meu filho, que será de nós e de nossos filhos?

Nos dias subsequentes, Marietta não continha o pranto que dela se apoderava sempre que se lembrava do sonho, até que um dia meu avô lhe prometeu, profundamente emocionado, que trabalhariam com todas as suas forças na construção de uma casa que pudesse atender a todos os necessitados que ali buscassem apoio. Jesus os auxiliaria a criar seus filhos para o exercício do bem, tentando apagar o incêndio das crises que lavrassem fora de seu recinto doméstico. Marietta silenciou e esperou pacientemente até que chegasse o momento em que foi possível traçar as bases da Fundação. Os anos se passaram. No dia 14 de março último, a instituição completou 86 anos de trabalho beneficente, forte e unida na Seara do Bem.

A quinquagésima quinta intervenção espiritual, em 16 de março de 2018, se iniciou com cânticos no intuito de abrir caminho para os espíritos curadores, prosseguindo com a leitura e comentários sobre os itens 13 e 14 (“O duelo”) do capítulo 12 (“Amai os vossos inimigos”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.

Estúpido amor-próprio, tola vaidade e louco orgulho! Quando os trocaremos pelo amor ao próximo e a humildade? Quando desaparecerão costumes monstruosos que ainda governam os homens e que as leis são impotentes para reprimir? Quanto ao ofendido, embora moralmente atingido, seja em relação a si ou àqueles que lhe são caros, é rematada estupidez jogar sua vida contra um miserável, capaz de infâmias. Mesmo que morto o infamante, a afronta deixará, por isto, de existir? O sangue derramado não causará maior estrago sobre um fato que, se for falso, deve ser esquecido por si mesmo e que, se for verdadeiro, deve ser remetido ao silêncio do exílio? De que adianta colher satisfação da vingança executada, que já nesta vida provocará insuportáveis remorsos?

Onde nos encaixamos? Seja no duelo que se trava diariamente dentre irmãos e companheiros que se cruzam sem cessar. Seja no sonho de Dona Marietta: seja na nau insensata fervendo de conflitos, seja na embarcação pronto-socorro que acena com a bandeira de Paz na Terra a Todos os Homens e Glória a Deus nas Alturas.

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Antonio Carlos Gaio
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